terça-feira, 20 de janeiro de 2015

06. O Corpo


O Corpo

Me disseram – o corpo é uma culpa!
E vivi condenado, sob um pesado fardo
Fui ensinado a esconder “minhas vergonhas”
E, daí, a me orgulhar das minhas recusas
Chamei de respeito o que era covardia
Morria de medo do que eu não compreendia
Mas, algo em mim me moveu à transgressão
A coragem, portanto, desde então me inunda

O que pode um corpo? Potência de vontade!
Corpo sem órgãos – produção desejante!
Nervo e osso, sudorese e libido
Cama de músculos, cobertor de gordura
O que pode um canto? A esquizoanálise!
Abrir passagem, forçar a abertura
Como reconhecer um corpo bem constituído?
É o que for mais agradável aos nossos sentidos

Me disseram – o corpo é uma prisão!
E me vi trancafiado, sem ver-me ser libertado
Fui ensinado a podar minhas asas
Ave de gaiola vê voar como loucura
Percebi que as grades em toda a sociedade
Funcionavam como vergalhão da estrutura
E davam a cada qual uma posição na fruição
Desde então, digo “não” à exclusão da vida

A porta é uma máquina de restringir fluxos
A maçaneta é uma máquina de abrir portas
A lâmpada é uma máquina de iluminar,
Também de aquecer ou sinalizar
Oh, serpente de aço que me transporta
Daqui pra outra vida, leva-me sem despedida
Eu sou uma máquina de tanto querer
E um dos meus quereres é o de saber
E você, é uma máquina de querer o quê?

Me disseram – o corpo é uma festa!
Mas, minha fantasia não aprovou a censura
Tal qual se assemelha a uma ditadura
A imposição de condutas que nos resta
Meu faro me afasta da experiência desmedida
Voltando a mim, calculo dose temperada
Quero ser alguém a passar pela vida e dizer
‘Não há nada que eu não tenha feito por querer’

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